João é a sua graça, pouco mais de uma dezenas de primaveras a sua idade. Um olhar doce e um sorriso traquina é quanto baste para se apresentar. Este é o meu afilhado!
A minha ténue ligação à igreja católica resume-se ao baptismo, esse evento memorável onde eu, no auge dos meus sete meses e pleno de todas as minhas capacidades vocais e lacrimais, consenti que um tipo careca trajando de branco e roxo me despejasse uma malga de água fria na moleirinha. Repetiu-se assim o ritual de João Baptista quando ajudou Jesus a enxaguar o cabelo no rio Jordão (provavelmente com champô Herbal Essences, que faz uma espuma que não tem fim...) e entrei assim no reino do senhor, com um arrepio na nuca e lavado em lágrimas de emoção por pertencer ao rebanho de Deus e ter por garantida a salvação da minha alma. Quis o destino que a ovelha que havia em mim se tresmalhasse e nem os atiçados cães do pastor foram capazes de me trazer de volta. Quais catequeses, primeiras comunhões e crismas... Desde que tenho dois dedos de testa que percebi que a igreja católica é das entidades mais opressoras que alguma vez existiram na face da terra. Não, não sou descrente... tenho as minhas crenças e Fés, mas digamos que ando a estudar as sagradas escrituras por mim próprio e devo ter assim uma espécie de fé auto-didacta!
"Deus escreve Direito por linhas tortas" pelo que deve ser advogado ou juiz, e daqueles influentes, porque, ironia das ironias, acabei por "TER" de ser padrinho "à força" de mais um cordeiro do rebanho do Senhor. E como é possível uma ovelha tresmalhada ser padrinho religioso quando não seguiu todos os trâmites legais para tal? Fácil, tive de fazer um exame adhoc que consistiu em, imaginem, uma pergunta: "O que é ser padrinho?" seguida de uma surpreendente resposta dada pelo próprio interrogador: "É um paizinho..." E PUMBA, já está! Acabei assim por introduzir mais uma ovelha no rebanho, e por sinal também se chama João, tal qual o profeta que introduziu esta mania de se ter de visitar pessoas que só vemos bastas vezes, normalmente na Pascoa e no Natal. Gostava de ser um padrinho mais presente, acompanhar as suas aventuras na escola, levá-lo num passeio de observação de aves, ler-lhe um livro, ir ao cinema ou espetar-lhe uma seca de 3 horas de como é importante estarmos conscientes do nosso lugar no planeta, de como as nossas acções se repercutem nos outros, de como temos de conservar a biodiversidade, ter uma atitude "environmental friendly" e resistir à poluição educativa que os media nos entregam todos os dias no sofá... em vez disso apareço lá por casa meia dúzia de vezes por ano, levo-lhe um livro ou um jogo de playstation, pergunto-lhe como vai a escola e esfrego-lhe o cabelo de escovinha. Quando ele tiver idade talvez me sente com ele e discuta um pouco "essa cena da igreja e da religião" e vou-me esforçar por conduzi-lo a ter um pensamento livre de ideologias religiosas. Tenho por objectivo estimular a semente do bem que germina dentro dele... se o podia fazer oferecendo-lhe a bíblia, inscrevendo-o na catequese e levando-o à missa todos os Domingos? Podia, mas não seria certamente a mesma coisa! E se eu consegui ele também será capaz e espero que um dia mais tarde perceba que se pode ser bom e praticar o bem sem estar preso a uma entidade opressora e manipuladora, seja ela qual for.
Até lá vou-me rindo com as suas traquinices e jeito de homenzinho de falar de todas as coisas. Espero que não deite fogo à escola e tire boas notas... afinal ele é inteligente e é fácil de perceber que é bom miúdo e isso é o mais importante, é o que está dentro de Nós!
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